quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

A verdade que se desmancha no ar, por Carlos Brickmann - Observatória da Imprensa

Um debate interessante e muito oportuno. O que vocês acham?
         
A experiência se realizou no Campus Party, em São Paulo: um blogueiro, para demonstrar o poder das redes sociais, divulgou a falsa notícia da morte do Seu Barriga, personagem de TV do seriado Chaves. Muita gente acreditou, retuitou, e em poucos instantes estava entre as notícias internacionalmente mais divulgadas do Twitter (na linguagem tuiteira, segundo lugar entre os trending topics). A experiência continuou: alteraram até a página da Wikipédia sobre o ator. E ninguém pôs em dúvida a notícia. Até portais de grandes empresas se limitaram a transcrevê-la, sem qualquer tipo de verificação.
Há várias lições a tirar do caso. Uma delas, negativa: noticiar deliberadamente a morte de quem não morreu é um ato repulsivo. Outra, positiva: mostra que, com a velocidade da difusão de notícias, ou os meios de comunicação tomam mais cuidado com o que divulgam (e não é isso que está acontecendo, especialmente nos portais), ou as informações falsas se espalham em alta velocidade, tornando impossível repor a verdade dos fatos. Mais cedo ou mais tarde, a irresponsabilidade na divulgação da primeira notícia vai acabar nos tribunais – e qual será o tamanho da indenização para quem, por descuido ou imperícia, tiver provocado prejuízos a terceiros?
A má informação, deliberada ou apenas incompetente, vem acompanhando o jornalismo desde o tempo dos pergaminhos e papiros. Houve época em que o jornalismo de chantagem prosperou muito, às vezes, dizem, até com objetivos decentes: ou você doa determinada obra ao museu ou eu publico que seu produto dá câncer, e você que se vire para desmentir. Hoje esse tipo de jornalismo marrom está cercado: a Justiça foi tomando conta dos excessos e impondo penas, em geral financeiras, aos violadores da lei.
Já os meios eletrônicos entraram na guerra pela destruição de reputações com algumas décadas de atraso. Aos poucos, a Justiça encontrará as maneiras de enquadrar os difamadores, os chantagistas e gente desse tipo. O próprio público consumidor de informação, espera-se, selecionará os meios eletrônicos capazes de informar com rapidez sem agressões contínuas à verdade dos fatos.
E a cada eleição, até lá, enfrentaremos problemas iguais. Uma empresa do governo, patrocinada por empresas estatais, anuncia a morte política de um adversário do governo; outra empresa do governo levou mais de uma semana para admitir que, levada por informações errôneas, partidarizadas e não verificadas, noticiou mortes que não existiram no caso do Pinheirinho. Já a oposição, diante de fatos reais, em que se defrontavam a morte e a vida, preferiu com frequência criar discussões artificiais sobre o tratamento médico que deve ser ministrado a um ex-presidente da República.
A resposta correta, e óbvia demais, é que deve ser ministrado ao ex-presidente o melhor tratamento possível, e os ódios partidários que se danem.
Enquanto isso, muitos dos meios de comunicação se subordinam aos interesses políticos e partidários e aplicam em seu noticiário o antigo provérbio “em tempo de guerra, mentira como terra”. Apostam contra sua própria sobrevivência, pois perdem a credibilidade, aquilo que leva alguém a pagar por eles. E fazem papel de bobos: embora a imprensa britânica tenha glorificado a “Carga da Brigada Ligeira”, na Guerra da Criméia, quem venceu a batalha foram os russos.

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